1º SÍNODO ARQUIDIOCESANO DE SÃO PAULO

Cardeal Odilo Pedro Scherer Arcebispo de São Paulo ANÚNCIO E CONVOCAÇÃO DO SÍNODO ARQUIDIOCESANO DE SÃO PAULO In meam commemorationem – Em memória de Jesus Cristo (Lc 22,19) A Eucaristia é o Sacramento de Jesus Cristo, de sua vida doada pela glória de Deus e a salvação da humanidade. Celebrando a Eucaristia, nós o fazemos “in meam commemorationem” – em memória de Jesus Cristo, de sua vida, paixão, morte e ressurreição e anunciamos sua nova vinda gloriosa no final dos tempos: “todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!” (Oração Eucarística VI-B). A Eucaristia também é o Sacramento da Igreja de Cristo. Quando celebramos a Missa, aparece bem clara a natureza da Igreja como povo reunido em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, convocado pela Palavra de Deus e animado pelo Espírito Santo. Em nenhuma outra circunstância, a Igreja aparece melhor como a comunidade dos discípulos reunidos em torno do seu Mestre e Senhor, que os chama e instrui pela sua palavra, nutre-os com o pão da vida, os conduz pelos caminhos da fé, esperança e caridade, intercede com eles e por eles diante do Pai celeste, conforta-os e os irmana pela caridade e os envia novamente em missão. A Eucaristia é a “epifania da Igreja”! A Igreja de Cristo, comunidade de fé congregada em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, está presente em cada diocese, “porção do Povo de Deus confiada a um Bispo unido com o Papa, sucessor do Apóstolo Pedro, para que a pastoreie em cooperação com o presbitério, de tal modo que, unida ao seu Pastor e por ele congregada no Espírito Santo mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitua uma Igreja particular, na qual verdadeiramente está e opera a Una, Santa, C 2 acolhimento da Palavra de Deus, para ouvir “o que o Espírito diz à Igreja” no tempo presente (cf Ap 2 e 3). Através do sínodo diocesano, é possível discernir melhor sobre a realidade eclesial, religiosa, social e cultural, na qual a diocese está inserida. E também é possível promover, com maior eficácia, a renovação da consciência eclesial, a reflexão sobre a vida pastoral, a ação de graças pelos frutos já alcançados e a projetação pastoral para o tempo presente e o futuro imediato, na fidelidade ao Evangelho e à missão da Igreja. Desde o Concílio Ecumênico Vaticano II, foram numerosos os apelos e iniciativas da Igreja para promover a renovação da sua vida e missão e nós somos gratos aos grandes e santos Pontífices que promoveram, através de múltiplas iniciativas e ensinamentos, a renovação da Igreja. Também na América Latina, sobretudo através das Conferências Gerais do Episcopado, como a de Aparecida em 2007, foi feito um grande esforço para promover esta necessária e exigente renovação da Igreja em nosso Continente. No Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos (CNBB) tem prestado um grande serviço aos bispos e às dioceses, oferecendo estímulos e orientações para a ação pastoral da Igreja nos mais diversos contextos da realidade brasileira. Suas Diretrizes Pastorais e seus Documentos, elaborados e aprovados na comunhão colegial do episcopado, têm sido norteadores da ação evangelizadora e pastoral das dioceses. Também na nossa amada Arquidiocese de São Paulo não foi pequeno o esforço realizado, no correr do tempo, para tornar a Igreja verdadeiramente presente e operante nesta imensa Metrópole, através da evangelização, da caridade e da celebração dos Mistérios da salvação. Em São Paulo, fundada por santos missionários, entre os quais São José de Anchieta, a Igreja procurou ser testemunha de Jesus Cristo na cultura urbana, graças à sabedoria e generosidade apostólica de seus Pastores e dos numerosos sacerdotes, ao testemunho cristão de incontáveis leigos e leigas, religiosos e religiosas. Por tudo isso, damos muitas graças a Deus! Neste tempo, porém, percebe-se a necessidade premente de renovar a evangelização e a vida pastoral em nossa Arquidiocese. A mudança de época em curso na sociedade e na cultura também atinge fortemente a vida eclesial e seus efeitos aparecem numa persistente crise de fé religiosa, na adesão sempre menor à vida eclesial e no progressivo abandono da Igreja e até da fé cristã. Essa crise não atinge apenas a nossa Arquidiocese, mas a Igreja Católica em várias partes do mundo. Não é sem motivo que a Igreja vem nos conclamando para uma nova evangelização, a renovação da consciência eclesial e a consistente ação missionária. Faz-se urgente retomar a vida cristã genuína e a prática coerente da fé e da moral cristã. Disso tratam os documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II e do Magistério Pontifício pósconciliar, as Exortações Apostólicas pós-sinodais, os Documentos das Conferências Gerais do Episcopado da América Latina e do Caribe, como o de Aparecida (2007). Para essa renovação missionária, o Papa Francisco nos chamou na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013) e não se cansa de indicar os rumos para sermos uma Igreja “em saída missionária”, em estado permanente de missão. Creio, pois, ter chegado o momento de percorrer, com fé, esperança e empenho generoso, o caminho da conversão pastoral e missionária também em nossa Arquidiocese de São Paulo. Após oração ao Espírito Santo, e depois de consultar os 3 bispos auxiliares, o clero, religiosos e fiéis leigos, decidimos celebrar um sínodo arquidiocesano em São Paulo. Muitas dioceses do Brasil e do mundo celebraram sínodos no passado e continuam a fazê-lo, sempre com grande fruto, também no presente. A arquidiocese de São Paulo não celebra um sínodo há mais de um século! O sínodo será dedicado à vida e à missão da Igreja na Arquidiocese de São Paulo e será uma ação eclesial de grande significado, que contará com o envolvimento de todas as forças vivas desta Igreja particular. O objetivo principal do sínodo arquidiocesano é a renovação da evangelização e da vida pastoral da Arquidiocese, à luz dos apelos de Deus e da Igreja e à luz da realidade, na qual vive a Igreja de São Paulo. Parte importante desse objetivo é a avaliação e a tomada de consciência da realidade da Arquidiocese, de sua organização e de sua ação evangelizadora e pastoral, bem como a elaboração de diretrizes para uma nova organização pastoral. Importa responder de modo eficaz aos desafios e urgências da vida e da missão desta Igreja particular. Todo o caminho sinodal, seu anúncio, convocação, preparação e celebração, deverá ser acompanhado da oração ao Espírito Santo, luz, guia e animador da Igreja; deverá também ser marcado pela escuta e acolhida da Palavra de Deus e do ensinamento do Magistério da Igreja. O sínodo poderá significar uma saudável sacudida – um “vento impetuoso de Pentecostes” – na Igreja de São Paulo e um forte impulso para “avançar para águas mais profundas” no exercício da missão evangelizadora e da vida da Igreja. O sínodo poderá contribuir muito para promover a comunhão, a conversão e a renovação pastoral e missionária em nossa Arquidiocese. Para favorecer a participação abrangente do povo de Deus, o caminho sinodal prevê diversas etapas: 1.Etapa preliminar (2017), durante a qual todo o povo de Deus é convidado a rezar pelo bom êxito do sínodo. Nesta etapa, também será feita ampla difusão e motivação para o sínodo; será promovido o estudo sobre a celebração do sínodo, organizado o trabalho da comissão de coordenação e da secretaria geral; e serão elaborados o regulamento e os subsídios necessários para a celebração das etapas seguintes. 2. Etapa preparatória de base (2018), envolvendo as paróquias, comunidades e organizações pastorais e eclesiais no âmbito paroquial. Esta etapa destina-se à reflexão e à tomada de consciência sobre a vida e a missão eclesial e deve proporcionar um diagnóstico da Arquidiocese, a partir das suas “bases”, nas comunidades e organizações pastorais do âmbito paroquial. Cada paróquia produzirá um relatório sobre a Igreja no âmbito paroquial. 3. Etapa preparatória dos Vicariatos regionais e ambientais (2019): nesta etapa, serão realizadas assembleias sinodais nos Vicariatos para analisar e refletir sobre os relatórios paroquiais, incluindo as realidades eclesiais supra paroquiais, como as pastorais, associações, movimentos e novas comunidades. A partir do trabalho sinodal nas Regiões e Vicariatos ambientais, deverão ser elaborados relatórios a serem levados para a assembleia sinodal da Arquidiocese. 4. Assembleia do sínodo arquidiocesano (2020). Será a etapa central do caminho sinodal. Participarão da assembleia os delegados sinodais eleitos ou indicados, conforme o regulamento do sínodo. Na assembleia sinodal arquidiocesana, serão apresentados e analisados os relatórios das Regiões Episcopais e Vicariatos ambientais, com o objetivo de elaborar as propostas finais do sínodo da Arquidiocese. 4 A partir das indicações do sínodo, espera-se chegar à definição de diretrizes pastorais para renovar e dinamizar a ação evangelizadora e pastoral nos anos seguintes na Arquidiocese. A partir das indicações do sínodo, também poderão ser revistas e renovadas as várias diretrizes pastorais e, oportunamente, poderá ser efetuada uma reorganização pastoral da Arquidiocese. O tema específico, que deverá nortear todo o caminho sinodal será: “Sínodo da arquidiocese de São Paulo: caminho de comunhão, conversão e renovação missionária”. O tema destaca a identidade do sínodo, que é “caminho feito em comunhão”, e também suas grandes metas: promover a conversão e a renovação missionária de toda a Arquidiocese. O lema escolhido para o sínodo é: “Deus habita esta cidade: somos suas testemunhas”. A Palavra de Deus e seu amor misericordioso por todos os habitantes da nossa Metrópole nos interpelam, motivam e ajudam a discernir sobre a realidade do ambiente urbano, no qual nossa Igreja está inserida e onde temos a missão de ser testemunhas de Jesus Cristo e da alegria do Evangelho. Irmãos, bispos auxiliares, padres, diáconos, cristãos leigos e leigas, religiosos e religiosas, desta amada arquidiocese de São Paulo: nesta solenidade litúrgica de Corpus Christi reunimo-nos em torno do altar da Eucaristia e saímos pelas ruas de São Paulo para testemunhar publicamente nossa fé em Cristo, Pão da Vida, Bom Pastor e Senhor da Igreja. Hoje, convoco a Arquidiocese de São Paulo inteira a celebrar o sínodo arquidiocesano com profunda fé, alegre esperança e ardente caridade. Convoco o clero, os cristãos leigos e leigas, os religiosos e religiosas e todos os irmãos e irmãs que se consagram a Deus nos diversos carismas que brotam do Evangelho de Cristo. Coloquemo-nos todos em caminho, unidos no amor de Deus e na comunhão da Igreja, animados unicamente pelo desejo de corresponder bem à vida e à missão da Igreja em nossa Arquidiocese. Unamo-nos em oração ao Espírito Santo, para suplicar a graça de suas luzes e de abundantes frutos de comunhão, conversão e renovação missionária para a Igreja em nossa Arquidiocese! Que intercedam por nós a Virgem Maria, Mãe da Igreja, a Senhora da Assunção e o apóstolo São Paulo, Patrono de nossa Arquidiocese. Que nos ajudem São José de Anchieta, grande missionário e iniciador da Igreja em São Paulo, Santa Paulina e Santo Antônio de Santana Galvão, os bem-aventurados Padre Mariano e Madre Assunta Marchetti, membros da Igreja de São Paulo, que a edificaram com suas vidas santas; que todos os Santos Padroeiros de nossas Comunidades, ardorosos discípulosmissionários de Jesus Cristo, intercedam por nós e nos ajudem a sermos hoje, nesta cidade imensa, testemunhas de Jesus Cristo! Iniciemos o nosso caminho sinodal em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém! São Paulo, na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi), 15 de junho de 2017, Ano Mariano Nacional. Cardeal Odilo Pedro Scherer

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