Frederico Ozanam, há 200 anos

Recorda-se, nesta semana, que, há 200 anos, nasceu Frederico Ozanam, um dos mais extraordinários “apóstolos da caridade” dos tempos modernos. Filho de Jean-Antoine François Ozanam e de Marie Nantas, Frederico nasceu em Milão, no dia 23 de abril de 1813. A Europa vivia os tempos conturbados do fim da era de Napoleão Bonaparte e o ambiente não era nada favorável à Igreja Católica.

Ozanam realizou seus estudos secundários em Lyon (França) e frequentou a célebre universidade da Sorbonne, de Paris, onde se formou advogado. Ali despertaram e se desenvolveram sua sede de verdade e o compromisso social, decorrentes da fé cristã, que foram a base de sua vida operosa e breve. Era fascinado pelo exemplo e a obra de São Vicente de Paulo, grande sacerdote francês que viveu dois séculos antes dele.

Em 1933, com apenas 20 anos de idade, ainda estudante e com seis companheiros, fundou as Conferências de São Vicente de Paulo, que se espalharam rapidamente pela França, toda a Europa e, finalmente, pelo mundo inteiro. Hoje estão presentes em 148 países! A proposta é a mesma que conhecemos ainda hoje: a caridade concreta, organizada e praticada de maneira sistemática, sobretudo por leigos de todas as condições sociais.

Tornou-se doutor em Direito (1836) e em Letras (1839) e foi um brilhante professor universitário na própria Sorbonne. Em 1941, casou com Amélie Soulacroix, filha do reitor da Academia de Lyon, e teve uma filha. Em 1848, participou da criação do jornal “L’Ere Nouvelle” (A Nova Época), no qual procurou desempenhar um amplo diálogo cultural e impregnar com o pensamento cristão as instituições republicanas modernas.

Seu pensamento marcou amplamente o catolicismo social, num período em que a questão operária era aguda e que coincide com o lançamento do Manifesto Comunista (1848), de Marx e Engels; esses filósofos acusavam o Cristianismo e a religião, em geral, de serem “alienantes” em relação às questões sociais. Ozanam mostrou, justamente, que isso não é verdade. Seu pensamento estará presente, pouco mais tarde, na primeira grande Encíclica social, a Rerum Novarum, do papa Leão 13 (1891).

Em 1846, apareceram os primeiros sintomas da doença que levaria Frederico Ozanam à morte em Marselha, em 1853, com apenas 40 anos de idade. Sua obra extraordinária prosperou e floresceu rapidamente e continua a produzir frutos em todo o mundo. As Conferências Vicentinas são iniciativas simples e eficazes de caridade organizada, como queria São Vicente de Paulo. A inspiração não é ideológica nem meramente filantrópica, mas é a mística da fé sólida em Jesus Cristo, do qual os pobres e os que sofrem são quase um ‘sacramento’ (“a mim o fizestes!” cf Mt 25,39), e da dignidade humana (“façamos o homem à nossa imagem e semelhança” cf Gn 1,26). Essa fé frutifica na caridade direta, nas obras de misericórdia e na esperança; a pessoa é valorizada e a vida ganha novo sentido.

Em 22 de agosto de 1997, Ozanam foi beatificado pelo papa João Paulo 2º na Catedral de Notre-Dame, de Paris; e os Vicentinos de todo o mundo estão confiantes no milagre requerido para a sua canonização. Frederico Ozanam também é um dos intercessores da Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro; foi um jovem cristão, um universitário, que foi fundo na experiência da fé e nas suas consequências para a vida; ele pode servir de inspiração para muitos jovens também hoje. Homem de fé, ele ajuda a viver a alegria da fé.

Intelectual católico, professor universitário, Frederico Ozanam mostrou que a fé religiosa não aliena da vida real e dos problemas do mundo, mas, pelo contrário, é uma luz e uma força dinâmica, que pode ajudar o mundo a resolver seus problemas. Em tempos difíceis, como foram os de sua época, Deus inspira pessoas extraordinárias, que ajudam a Igreja a propor novamente a Boa Nova do Evangelho para a vida do mundo.

Não é diferente hoje. Os tempos são desafiadores para a Igreja Católica e à fé cristã; mas também estamos em plena “nova evangelização”, que convoca todos os batizados para um novo ardor missionário. O exemplo do leigo Frederico Ozanam e de tantos outros grandes personagens católicos de épocas difíceis podem ser muito inspiradores!

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 23/04/2013
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
@DomOdiloScherer

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